quarta-feira, 17 de novembro de 2010

5 anos...



Mais outro funeral!...

-Quem foi?


-Foi um COMANDO!


-Um COMANDO?


-Sim um, um soldado como os outros.


-Como os outros?


-Talvez não, talvez um pouco mais...talves um pouco menos.


-Um pouco menos?


-Sim, por não querer ser tanto


-Um pouco mais?


-Talvez por isso mesmo!


-Mas quem são os COMANDOS?


-Quem faz do perigo o seu pão. Do sofrimento o seu irmão. E da morte a sua companheira, e se habituou a tê-la sempre à sua mesa e à sua cabeceira, noite e dia, sem perder a alegria e o prazer de viver e sonhar.


-Que estranha companhia, mas porquê esse gosto, essa busca da morte de quem todos os seres fogem, mesmo os mais valentes?


-Porque são diferentes!


- E a fome? E a sede? E o medo? E a morte?


- A fome esquecem-na, quando tudo neles a repele e denuncia vão procurar no espírito o único alimento que a sacia.


- E a sede?


- Sede só têm uma, e essa ninguém a mede, a de fazer melhor, e de chegar primeiro, a de mesmo no alento derradeiro, quando o corpo já parece não ser nosso, gritar ainda: EU QUERO! EU POSSO!


- E o medo?


- Conhecem-no, por isso não o temem e para o combater e eliminar, são teimosos, tenazes, quando o instinto os contraria, repetem a cada minuto do dia: "A SORTE PROTEGE OS AUDAZES"


- E a morte?


- Ao pensar nela, a sua companheira habitual, transfiguram o receio e o pavor, tornando quase igual a própria morte e o amor.


- Mas eles não amam, eles não sofrem? Não são humanos afinal!


- São humanos demais, embora parecendo de menos e é esse apenas o seu drama, no seu bornal, no seu cantil, na sua cama, vivem o amor e a morte, e uma eterna inquietação.


- Há quem diga que o amor e a morte são quase a mesma coisa...


- Para eles são, e vivem num mundo diferente...feito de assombro, de sonho e de quebranto...


- Meio demónio e meio santo?


- Sim, é isso sim talvez o que eles são, mas sentem-se felizes com a sua sorte, pois não distinguem o amor da morte e só se sentem bem a viver nos extremos, o meio termo não existe para eles, nem o amar, nem o querer, nem o lutar, nem o sofrer, isso não sabem o que é, está fora do seu mundo, a sua taça bebem-na até ao fundo!
- E acreditam em Deus?
- Sim, ou melhor, creio que Deus habite neles em origem, não em fidelidade, pois são daqueles poucos a quem Deus estende a mão sem que eles lha peçam, porque só lhe pedem o que os outros não querem.


- Mas assim querem ser melhores que os outros, ser os melhores de todos.


- Não. Porque não comparam. Só querem ser melhores que eles próprios, por conforto ou benesses nenhum deles lutou, fiéis a essa ideia: Só provará o pão de Deus quem comeu o que o diabo amassou!
- É belo mas estranho tudo o que me disseste, porém que dizer deste pobre rapaz? Já que deu a vida, que a sua alma descanse em paz.
- A paz para ele nunca quis, não é pois na paz que ele há-de ser feliz.
- Mas que queria ele então...???
- Não sei, mas antes ou depois que a vida de um COMANDO acabe, nem ele próprio, mas só Deus
o sabe.
- Mas é estranho não querer nem desejar para si mesmo a paz.


- Medita nisto: O primeiro COMANDO foi Cristo, porque pregando a paz nunca viveu em paz e até morreu por isso.
- Compreendo então. Querem ser como Cristo?
- Não, também não, isso seria muito, querem apenas ser isto: Ser COMANDOS e viver como tal.
- Compreendo por fim, por isso creio que quando o corpo deste moço descer à terra fria e a última lágrima de alguém que muito queria, ainda não tombou, a sua alma, com a qual nunca se enfeitou, não sei se foi ao céu, a caminho de Deus, mas sei que subiu e se salvou!

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